quarta-feira, 17 de outubro de 2007

O PREPARO DE UM PROFESSOR PARA LECIONAR EM ESCOLAS PÚBLICAS AMERICANAS: por Augusto Pitta




O PREPARO DE UM PROFESSOR PARA LECIONAR EM ESCOLAS PÚBLICAS AMERICANAS por Augusto Pitta

O sujeito que tem como vocação o ensino e deseja fazer dele o seu ofício nos Estados Unidos da América, precisa tomar uma série de passos antes de qualificar-se e habilitar-se para tal. Em primeiro lugar, é condição sine qua non que a pessoa esteja certa de que realmente deseja abraçar este “sacerdócio”. Segundo, ninguém que entra nesta profissão com uma visão que não seja a de educar, instruir, orientar e, em última instância, transmitir conhecimento, consegue chegar à auto-realização.
O “sacerdócio” da pedagogia é, ao mesmo tempo, deveras gratificante e altamente frustrante, por várias razões. Por que isso? Bom, o cidadão decide que quer ser professor. Em seguida, ele necessita ingressar em um departamento de alguma universidade que ofereça um programa que o conduza à ocupação. Por exemplo, se você quer ser professor de línguas, deve ingressar em um departamento de letras; se quiser ensinar física, química ou matemática, direcionar-se a área da exatas; se quiser ensinar ciências, biologia, etc... trilhar este caminho por quatro anos. Ao findar o curso de graduação (conhecido aqui como undergraduate studies), o sujeito gradua-se com um B.A. (Bacharelado em Artes) ou um B.S. (Bacharelado em Ciências). Este B.A. ou B.S. o qualifica para ingressar em qualquer secretaria de educação (board of education) de qualquer distrito escolar americano. O que acontence então? Bom, neste momento, o professor tem que submeter-se ao processo de certificação em sua área de atuação. Geralmente, a maioria dos aspirantes a professor faz um curso de graduação e em seguida entra direto no mestrado (M.A., M.S., M.Ed. ou Ed.M.) com disciplinas que o conduzam a aquisição da certificação (chamado aqui de certification track). Este mestrado tem na sua grade disciplinas como psicologia da educação, metodologia, métodos e materiais, etc. Tem também alguns exames específicos em cada estado, como legislações específicas da educação em cada estado, etc. Quando o professor não tem a certificação estadual para lecionar em escolas públicas, ele precisa está inscrito no processo para que assim possa ser contratado como professor pela secretaria de educação e eles lhe dão um prazo de cerca de 3 a 5 anos (varia de estado para estado) para concluir o mestrado, senão perde o emprego. Fora isso, tem que parcitipar freqüentemente de conferências, congressos, treinamentos (in services) e workshops. Passada toda esta fase de credenciamento, o mestre tem que ser observado em média uma vez por semana (informalmente) e uma vez por mês (formalmente) durante três anos(mas este prazo varia muito de estado para estado também) para poder conseguir seu tenure (status vitalício). Além de ter que estar preparado para ministrar suas aulas, o professor tem que ser ultra organizado. O seu plano-de-aula tem que estar exposto em algum lugar visível, no caso de alguém vir observá-lo, do contrário pode ser reprovado na observação e se não receber nota satisfatória em TODAS, jamais alcançará a segurança no emprego (o tenure). O professor tem que ter total domínio da turma (o que eles chamam de class management); porém, muitas vezes, os alunos não são razoáveis! Eles trazem para as salas-de-aula as mais diversas personalidades e dificuldades que tornam a vida do professor um verdadeiro inferno, portanto o “sacerdócio”, que aliás não tem nada de ócio! Inclusive, e trabalho duro e puro. Nos reunimos com coordenadores de departamento, conselheiros pessoais dos alunos, pais, vice-diretores e diretores, etc. Temos que ligar para as casas dos alunos, mante-los depois de findar o dia letivo, passar tarefas extras, aconselha-los, dar aulas extras, etc. No final das contas, não temos tempo para as nossa vidas pessoais, nossas famílias, nossos filhos, nossos interesses outros, etc... é DE (dedicação exclusiva) mesmo! São tantos os formulários que temos que preencher e submeter que as nossas escrivaninhas ficam empilhadas: é uma verdadeira loucura! Por isso é frustrante! Porque apesar de tanta preparação, tanto credenciamento, tanta dedicação e submissão, o salário acaba achatadíssimo depois de todos os impostos manipulados no nosso olerite. Nem sempre recebemos o reconhecimento que merecemos por parte dos colegas ou superiores ou alunos ou seus pais. Aliás, quase nunca acontece isso.
Em suma, somente o sujeito que entra nesta profissão com uma visão de educador, instrutor, orientador e, em última instância, transmissor de conhecimento, pedagogo mesmo, consegue chegar à auto-realização. Por que é gratificante? Porque é muito bom ver aqueles poucos que querem alguma coisa (e bote pouco nisso), com a nossa ajuda, alcançarem estas metas. Olhos que brilham ao chegarem ao entendimento de algo. Os que retornam um dia para dizerem que se deram bem na vida. Os que se lembram da gente quando cruzam com a gente nas ruas, na chuva, nas favelas ou numa casinha de sapê. Enfim, ser professor de escola pública nos EUA não é fácil e pode ser bastante gratificante. Os benefícios são bons também. Todavia, se você quer ter mais tempo para você mesmo ou sua família, pense duas vezes antes de ingressar nestas fileiras. Lembre-se, é dedicação exclusiva! E o salário, ó!!!

Prof. Augusto Pitta
Ex-Professor de Escola Pública nas cidades de Buffalo e Nova Iorque

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