quarta-feira, 19 de março de 2008

Sociedade do futuro

Sociedade do futuro
Kelly Roncato

Ele tem apenas 13 anos de idade. Traz consigo o histórico da violência intrafamiliar, da vida nas ruas, dos atos infracionais e do vício em drogas. Ouviu a mãe atirar no pai adotivo aos oito anos de idade, parou de estudar e fugiu de casa. Mas tudo isso faz parte do passado. Hoje, a história que Railander Pablo Freitas de Souza tem para contar é muito boa. Ele é – e será até completar 18 anos – o representante brasileiro do júri internacional infantil do Prêmio Nobel das Crianças.

Um pouco de história...
Tudo começou quando o garoto foi encaminhado pela própria mãe para o abrigo Casa Moradia e conheceu o projeto Circo de Todo Mundo. Lá Railander teve acesso à informação de que existia um prêmio, entregue anualmente, a pessoas que se preocupavam em garantir o cumprimento dos direitos das crianças e dos adolescentes em alguma parte do mundo. E quem elegia essa pessoa era um júri internacional formado por 15 crianças de várias partes do mundo. O requisito para fazer parte da seleção era possuir uma história de vida que demonstrasse claramente a necessidade de encontrar e persuadir a sociedade civil para o trabalho de proteção da infância no mundo.

O caso de Railander poderia competir com o de outras crianças. Assim, o nome dele foi inscrito na seleção brasileira da criança que se tornaria a representante do país nesse júri. O garoto teve sua história de vida publicada no Portal Educacional e mais de 4 mil estudantes de escolas públicas, particulares, moradores de abrigos e participantes de projetos em Organizações Não Governamentais votaram no nome dele como sendo de um bom representante.

Por isso, em abril deste ano, o mineiro Railander foi à Suécia participar do encontro com outras 14 crianças e ajudar a decidir, em uma votação, quem seria a vencedora de 2007 do prêmio Amigo das Crianças, oferecido pela ONG Children’s World, da Suécia, e entregue, em cerimônia solene, pela Rainha Silvia. Em 2007 concorreram Cynthia Maung, da Birmânia, Inderjit Khurana, da Índia e Betty Makoni, do Zimbábue.

“Nesse evento eu aprendi que nós, menores de 18 anos, temos direitos a serem cumpridos. Eles são sérios, valem para todos, mas o Brasil ainda pode melhorar muito, porque existem coisas fundamentais e simples que não são feitas aqui”, diz ele. “Quando chegamos lá, temos alguns problemas de comunicação, por conta da língua, mas é possível aprender o que os outros países já estão fazendo e ver que algumas necessidades não são só nossas.”

Teoria na prática
O garoto conta que hoje estuda pela manhã e participa do projeto Circo de Todo Mundo à tarde. Com essas atividades diárias, ele aprende a ter disciplina, a buscar seus sonhos, compreende mais a necessidade que pessoas com a idade dele possuem nos quesitos estudos, brincadeiras, alimentação adequada, proteção e carinho. Pilares que, juntos, trazem a oportunidade para a vida de crianças, mesmo que nasçam em famílias pobres ou sejam filhas de países do chamado terceiro mundo.

Além de todas essas conquistas, Railander voltou a morar com a família. Quando crescer quer ser ginasta e trabalhar em um circo. Se possível, no Cirque Du Soleil, já que é o melhor do mundo. “Hoje estou melhor, estou morando de vez com a minha mãe e com os meus irmãos. A minha convivência com eles melhorou muito. Eu mudei, aprendi coisas novas e melhorei.”

O representante brasileiro do júri internacional infantil Crianças de Todo Mundo – nome real do “Nobel das Crianças” – nunca mais usou drogas ou cometeu atos infracionais. Pelo contrário, ele hoje serve de modelo a ex-colegas de rua e ajuda outras crianças a conhecerem seus deveres e direitos em diversos locais, entre eles a sala de aula. “Sempre digo para meus amigos serem educados e respeitarem os professores. Eles nos ensinam, nos dão carinho e podemos melhorar com o que aprendermos.”

A história deste menino é um bom exemplo, professor, para você trabalhar com seus alunos temas como superação, desafio, persistência e a busca por aquilo que se deseja. Além, claro, de ajudar àqueles que passam por uma situação parecida a encontrar um caminho para a mudança.

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