terça-feira, 18 de dezembro de 2007
ENTREVISTA: DOMINGOS LEONELLI
ENTREVISTA: DOMINGOS LEONELLI
18/12/2007 00:00:01
Foto: Rita Barreto
"Os serviços turísticos baianos não chegam perto da nossa hospitalidade"
Por Daniel Pinto
Ele é uma das “figuras tarimbadas” da esquerda em Salvador e no Estado da Bahia. Ainda como integrante do diretório estadual do Partido Socialista Brasileiro (PSB) cunhou a expressão “A luta continua!”, que se tornou símbolo da resistência ao autoritarismo vigente no Estado naquela época. Hoje, Domingos Leonelli é o secretário estadual de Turismo e ganhou um novo desafio: reverter a crise no setor turístico baiano após o apagão aéreo. Nesta entrevista ao “Bahia Notícias”, Domingos Leonelli revela as principais ações do Estado para superar o que ele chamou de “combinação terrível”, afirma que a não aprovação da CPMF pode reduzir as verbas para a Bahia, comenta os assaltos a turistas e o plano de ação para “reconstrução” do centro histórico, além de falar sobre a questão das barracas de praia da orla de Salvador e a concepção do PDDU. Isso e muito mais! Ao que tudo indica, a luta está só no começo.
Agora com a chegada da alta estação e a proximidade do carnaval, o Sr. teme que os resquícios do apagão aéreo diminuam o fluxo de turista no Estado?
Domingos Leonelli – Os efeitos negativos que poderiam advir pra nós já chegaram. Agora, a perspectiva é de melhora. As informações que eu tenho da rede hoteleira é que os hotéis do circuito da festa, que sempre fecham com quase 90% da sua capacidade de ocupação, já estão prestes a atingir essa meta. Obviamente, até mesmo no carnaval, os hotéis que estão fora do circuito demoram um pouco mais. Nós fizemos uma pesquisa no carnaval passado e derrubamos aquela idéia de que todos os hotéis da capital ficavam 100% ocupados nesse período. Só pra você ter idéia, neste carnaval tivemos aproximadamente 76% de ocupação.
Apagão aéreo e dólar baixo são uma combinação terrível.
DL – Sem dúvida, essa é uma combinação terrível! Não só para a Bahia, mas para todo Nordeste. Essa combinação prejudica tanto o turismo nacional como o internacional. Mesmo assim, dado as circunstâncias, as notícias que tenho são de que o verão começou bem. De uma maneira geral, os hotéis começam a receber um fluxo bom. Não há mais reservas para o reveillon em Porto Seguro. Estive em Itacaré recentemente e lá também as reservas estão aumentando. Enfim, o verão está indo bem.
Os vôos para Lençóis foram restabelecidos?
DL – Ainda não. Nós tínhamos dois vôos certos, mas as novas exigências da Anac em relação ao carro-pipa do Corpo de Bombeiros exigem uma capacidade de seis mil litros, enquanto o carro da região de Lençóis comporta apenas 1500. Mas, a compra do carro já foi autorizada pelo governador e eu estou aí cobrando do Corpo de Bombeiros a aceleração desse processo. Mas, nós conquistamos novos vôos regionais para Conquista, Barreiras e Paulo Afonso.
Mesmo assim, levando em conta as adversidades, as coisas começam a melhorar para o turismo em nosso Estado?
DL – Creio que sim! Com a alteração da medida do ministro Nelson Jobim (Defesa), nós tivemos uma vitória política muito importante. A limitação da distância de 1000 km para os vôos de Congonhas, imposta anteriormente, fez com que Salvador perdesse 28 vôos, Ilhéus e Porto Seguro perderam três vôos diretos. O aumento da distância limite para 1500 km restabeleceu esses vôos para a Bahia. Também está sendo implantado um sistema de cancelas e sinalizações no aeroporto de Ilhéus, de forma que vamos poder recuperar os 180 metros da pista, que, inclusive, tinha sido interditada.
Mas, o governo não vai construir outro aeroporto em Ilhéus?
DL – O aeroporto de Ilhéus não tem nenhuma possibilidade de crescer significativamente. Então, o governador Wagner conseguiu R$ 150 milhões do PAC para construção de um novo aeroporto. Esse ano, em termos de recursos para infra-estrutura pública, foi muito significativo. Nós firmamos compromissos importantes com o governo federal. Foram R$ 134 milhões para o saneamento da Baía de Todos os Santos, mais R$ 16 para recuperação de centros históricos, conseguimos recurso para qualificação de mão de obra. Vamos inaugurar agora o Sintur, que vai funcionar como um serviço de orientação e qualificação sobre a mão de obra turística.
Agora, com a não aprovação da CPMF, será que esses recursos estão mesmo assegurados?
DL – Eu temo que a não aprovação da CPMF reduza, de certa forma, o montante de repasses para a Bahia. É evidente que todos os orçamentos do governo federal vão encolher e nós precisamos de verbas da União, principalmente para o turismo.
Secretário, fala-se muito que a Bahia perdeu investimentos para outros Estados, principalmente para Pernambuco e Ceará. Dizem até que um grupo de empresários portugueses traria um importante empreendimento para a Linha Verde, mas foram atraídos pelos incentivos de Pernambuco. O que há de verdade nisso?
DL – Essa suposição é absolutamente irreal. Quando nós chegamos ao governo do Estado, a Bahia tinha registrado na superintendência de investimentos US$ 2,2 bilhões até 2010. Este ano, somente no ano de 2007, foram anunciados US$ 1,15 bilhão. Falo em anúncios porque os recursos não foram capitados, como também não foram capitados na gestão passada. Estamos cuidando do presente para projetar um futuro promissor. Mas, evidentemente, você pode ter empreendimentos que optaram por outros Estados. Cada Estado tem os seus valores e as suas formas de atrair investidores. A Bahia não exerce o monopólio na área de atração de empreendimentos (risos).
Mas, nesse aspecto, a Bahia é competitiva?
DL – A Bahia é muito mais competitiva do que todos os outros Estados de sua região. Prova disso é o volume de investimentos que nós temos, que é maior do que qualquer outro Estado do Nordeste.
Nos últimos cinco anos, o centro histórico de Salvador entrou num processo de intensa degradação. O governo tem algum plano de ação para reverter esse quadro?
DL – Muito bem, o governo estabeleceu um grupo de trabalho coordenado pela Secretaria de Cultura, que foi escolhida porque possui um órgão executivo que atua no centro histórico, que é o IPAC. A ação conjunta já iniciou com sucesso. Os espetáculos musicais já retornaram, o que deu um novo alento ao Pelourinho. Também estamos melhorando a relação com os comerciantes e com a comunidade. Houve a recomendação para reforço do policiamento e também foi solicitada a implantação de mais câmeras de segurança. Mesmo assim, é inegável que temos problemas. A verdade é que encontramos o centro histórico abandonado. Temos depoimentos de comerciantes do Pelourinho que afirmam que há mais de 12 anos não se fazia investimento naquela área. Então, é uma área que já vinha sendo degradada e que, por conta disso, nós a encontramos numa situação extremamente difícil. A partir da semana que vem a Secretaria do Turismo vai ampliar sua presença no centro histórico. Vamos ocupar o posto que pertence ao Sebrae e vamos implantar um centro integrado de atendimento ao turista. Além do posto de informações, serão vendidas passagens de ônibus para os principais destinos turísticos de nosso Estado, passagens de avião, tíquetes de espetáculos e ingressos para shows. Essa informação eu estou dando em primeira mão para o “Bahia Notícias”.
Agora, os constantes assaltos a turistas não mancham a imagem da Bahia, que é tida como terra hospitaleira e cosmopolita?
DL –Isso é péssimo! É muito ruim mesmo! Mas, essa questão não pode ser superdimensionada.
E quanto à escolta policial para os ônibus de turista vindos do exterior? Parece que só o Rio de Janeiro e a Bahia fornecem esse serviço.
DL – Olha, em relação ao assalto aos turistas alemães, a empresa que fez o transporte reconheceu que não solicitou escolta policial. Esse serviço funciona normalmente e foi reforçado para o verão. Nós temos possibilidade de escoltar conjuntos, é evidente que não há viabilidade para escoltar todo e qualquer ônibus ou van que saia do aeroporto de Salvador. Isso não é o ideal! Não é bom que uma excursão precise de acompanhamento policial para chegar com segurança ao seu destino. Isso é ruim, mas é “menos pior” do que um assalto. Sobre esse caso específico dos turistas da Alemanha, tanto eu quanto o governador acompanhamos de perto o desenrolar da situação. A informação que nós temos da delegada responsável pelo caso é de que já existem algumas pistas. Com isso, aumenta a esperança de localizar essa quadrilha e, talvez, recuperar parte dos bens roubados. Entendo que a situação não é boa, pelo contrário, ela é extremamente complicada. Mas, temos que enfrentar com uma ação conjunta de planejamento estratégico e prevenção policial. Com tudo, vamos solicitar à Secretaria de Segurança Pública o reforço do policiamento nos pontos turísticos e em toda extensão da Linha Verde. Mas, reitero que não podemos superdimensionar isso. Os assaltos não são rotina em nosso Estado.
Mesmo sendo casos isolados, dá pra ter uma idéia de como essa violência interfere no fluxo de turista na Bahia?
DL – Os efeitos disso não se dão em curto prazo. Quem já comprou pacotes turísticos, dificilmente refaz diante de uma notícia dessas. Agora, quem tem a intenção de comprar, pensa três vezes antes de fechar negócio. Só pra você ter idéia, a Universidade de Brasília – que tem um centro de estudos avançados em turismo – fez um cálculo em parceria com entidades internacionais, de que uma notícia de violência pode significar até cinco mil desistências de viagem no mundo inteiro. Portanto, isso é muito preocupante.
Por falar em violência, o Sr. tem acompanhado o imbróglio judicial que se tornou o processo das barracas de praia em Salvador?
DL – Tenho sim. Eu tenho certos limites para me referir a isso porque, como você sabe, eu fiz parte do governo João Henrique. Como secretário de Economia, Emprego e Renda do município eu não tive participação nessa decisão. Infelizmente não foi implantando um comitê de desenvolvimento econômico, como eu havia proposto. Isso foi um erro da administração. Um erro nosso porque na época eu fazia parte da administração municipal. No setor público nós erramos quando não tomamos decisões certas e também erramos quando não corrigimos uma besteira a tempo. Lamentavelmente até mesmo a ação do Ministério Público veio tarde demais. Nós reagimos tarde demais a essa questão. Acho que foi um erro coletivo que precisa ser corrigido o quanto antes.
Em relação ao atendimento ao turista, como o Sr. avalia a qualidade dos serviços prestados em nosso Estado?
DL – Temos que aprimorar a qualificação dos profissionais que atendem aos turistas. Tanto a qualificação empresarial como a profissional deixam muito a desejar. Os serviços turísticos baianos não chegam perto da nossa hospitalidade. Na verdade, são inteiramente contraditórios.
Verdade, o sentimento é esse mesmo.
DL – Nós temos um sorriso lindo e um serviço sofrível. Então, temos que trabalhar para juntar o sorriso à eficiência.
Mudando de assunto, o Sr. gostou do resultado da pesquisa Datafolha para sucessão municipal em Salvador?
DL – Pesquisa a gente não gosta nem desgosta, apenas constata (risos).
Mas, o que o PSB está planejando para a eleição municipal? O PSB tem um projeto paralelo para a capital?
DL – Nós temos propostas que inclusive já estão sendo apresentadas pela ex-prefeita Lídice da Mata. Lamentavelmente as ações promovidas pelo PSB na Secretaria de Economia, Emprego e Renda não foram contempladas na composição do PDDU. Até porque os principais vetores econômicos de nossa cidade não foram considerados neste Plano Diretor. Em hipótese alguma esses vetores poderiam ser desconsiderados na etapa de planejamento físico da cidade. Na nossa concepção, a liberação de construções na orla marítima de Salvador deveria ser condicionada a empreendimentos que gerassem emprego e renda e não para especulação imobiliária. Isso pode ser feito em outras áreas da cidade, como inclusive tem acontecido com sucesso. Como todos sabem, o mercado imobiliário não depende da orla. A orla deve ser reservada para instrumentos econômicos: oceanários, restaurantes, hotéis, marinas, etc. Enfim, atividades que gerem riqueza para a cidade e que prendam o turista mais tempo por aqui.
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